quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Nota de Repúdio ao Genocídio do Cabula


Nós, movimentos sociais movimentos socais e entidades da sociedade civil, organizados em todo território nacional, tornamos pública nossa declaração de repúdio VEEMENTE a mais um episódio parte de um projeto genocida contra o povo negro, que atinge com incidência os jovens em nossa história. Lamentavelmente a ferramenta genocida do estado militarizado sucumbiu mais uma vez a vida e os sonhos da juventude brasileira. 
O estado opressor e violento tirou a vida de 13 jovens na noite da ultima sexta feira (06/02) no bairro Cabula, em Salvador – Bahia. Entendemos que quando uma operação policial termina com treze mortos ela não pode ser vista como normal. Tal sintoma de naturalização da violência policial só demonstra a falência do sistema de segurança pública no Estado da Bahia, que se assemelha a todos os outros estados do país. Ainda corremos o risco de ver essas mortes serem invisibilisadas quando a grande mídia manipula a contagens das vítimas, alegando constar apenas doze mortos e não treze como os moradores da comunidade relataram, assim como não divulgar os outros 03 jovens mortos entre sábado e domingo em bairros próximos ao cabula.
Compreendemos o genocídio do povo negro como algo estrutural em nossa sociedade. Todos os dias, vários jovens negros são violentados nas periferias, morros e favelas das cidades. No Brasil, classe e raça andam lado a lado. E, como consequência disso, o povo negro é o que mais sofrem com a violência policial, uma vez que a Polícia Militar é um aparato repressivo do Estado, que, por sua vez, atende aos interesses da classe dominante. A chacina do Cabula não é um caso isolado, associado aos casos de sussuarana, onde abordagem violenta, sumiço de jovens e ameaça a outros tantos é constante, vide o caso do jovem Davi, obriga a população negra e pobre a viver a mercê da violenta militarização da sociedade. A morte dos 13 jovens, traficantes ou não, se agrava pela declaração do governador Rui Costa que ao elogiar a polícia militar e ilustrar o caso comparando-o com um gol de uma partida de futebol, abre a margem para que outras chacinas ocorram.
Os relatos da população do bairro do cabula revela que os jovens assassinados estavam desarmados e rendidos no momento da chacina policial. As mortes desses jovens não entrarão na conta dos homicídios cometidos por policiais, mas sim em mais um fraudulento registro de ‘Auto de Resistencia’. Tal política pública, garantida pelo código penal brasileiro, reverbera para a sociedade a utilização legal da pena de morte nas incursões e intervenções da polícia Militar. 
Assim, exigimos uma retratação pública do governador da Bahia pelas suas declarações infelizes e a apuração imediata referente aos responsáveis pelas mortes desses jovens negros, assim como que os mesmos sejam identificados e punidos com todo rigor da lei. Junto a isto, cobramos do Governo do Estado da Bahia o fim imediato das execuções, o afastamento IMEDIATO dos policiais envolvidos no caso, Proteção às testemunhas e famílias, a investigação transparente e independente, com envolvimento do Conselho Nacional de Justiça, do Ministério Público Federal e Estadual, e, o acompanhamento do Governo Federal na investigação e na implementação de políticas públicas que diminuam a vulnerabilidade da juventude negra à violência. 
Neste mesmo sentido, fazemos um apelo à Câmara Federal e aos parlamentares desta casa para que aprovem imediatamente o PL 4471/12, pelo fim dos Autos de Resistência. Este recurso foi criado no período da Ditadura Militar, no intuito de coibir a investigação de crimes cometidos por policiais e até hoje ele é usado como meio para legitimar a repressão e violência policial.
O que queremos é a igualdade de condições e combater essa lógica racista e repressora. Queremos um Estado mais democrático e anti-racista. Por isso, nossas vozes não ficarão entaladas em nossas gargantas e vamos falar e lutar até sermos ouvidos/as. Solidarizamos-nos com as famílias das vítimas e com seus vizinhos que ainda em estado de choque tentam compreender o porquê desta chacina. Contra a violência policial, nem um passo atrás!
Brasilia, 11 defevereiro de 2015. 
Assinam a nota:
ABL
ABGLT 
AfroMack
Agência de Redes para Juventude – RJ
Aliança Bíblica Universitária do Brasil
APNs - Agentes de Pastoral Negros do Brasil
Articulação Brasileira de Jovens Gays
Articulação Política de Juventudes Negras -APJN
Associação Franciscana
Blog NegroBelchior-CartaCapital
CEBRAPAZ
CEMJ - Centro de Estudos e Memória da Juventude
Cenpah - Centro de Pastoral Afro Pe. Heitor Frisotti
Centro de Estudos e Cultura Afro brasileira do Acre - CERNEGRO
Cernegro/AC
Coletivo de Entidades Negras - CEN
Coletivo Nacional de Juventude Negra - Enegrecer
Coletivo Negrada - ES
Coletivo No Batente
Coletivo Quilombo
Contracs 
Coordenação das Organizações Indigenas da Amazônia Brasileira (COIAB)
Associação Baiana Estudantil Secundarista - ABES
DCE Feevale
DCE UESB/Jequié
DCE UFRRJ
Diretoria de Combate ao Racismo da UNE
Diversidade Amazônica
Espaço da Diversidade Paraná
FEJUNE SP
Forum de Mulheres da Amazonia Paraense
Fórum Nacional de Juventude Negra
Grupo Arco-Íris de Cidadania LGBT
Grupo Cultural Anastácia Òmìnira
Grupo Ellos Pela Livre Orientação Sexual
Gt Juventude de Terreiro.
Instituto Cultural Afro Mutalembê
Instituto de Articulação de Juventude da Amazônia (IAJA).
Instituto IMANATARA
Instituto Paulista de Juventude - IPJ
Intervozes
JCONEN
JPT
JRECID
Juventude da CONEM
Juventude da CUT
Juventude negra Kalunga
Koletivo Filhxs do Abassá - KOFILABA
Levante Popular da Juventude
MLT - Movimento de Luta pel Terra
MNC - Movimento de Mulheres Negras Capixaba
Movimento Arte e Coesao - ARCO
Movimento Kizomba
Movimento Negro Unificado - MNU
Nação Hip-Hop Brasil 
O Estopim
Pastoral da Juventude
PJMP - Pastoral da Juventude do Meio Popular
Radio Juventude
Rede de Adolescentes e Jovens pelo Direito ao Esporte Seguro e Inclusivo (REJUPE)
REDE DE JOVENS DO NORDESTE -RJNE
Rede Ecumênica da Juventude (REJU)
Rede FALE
Rede Nacional de Articulação de Juventude de Matriz Africana e Terreiros
Rede Nacional de Religiões de Matrizes Africanas e Saúde
RENAFRO
UBM - União Brasileira de Mulheres
UJS - União da Juventude Socialista
UNEAFRO
União de Negros Pela Igualdade – UNEGRO
Viração Educomunicação
DCE UFF - Fernando Santa Cruz
CUCA da UNE

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